domingo, 25 de julho de 2010

O carteiro que perdeu sua alma

Em algum lugar deixei minha poesia. Acho que foi numa carta que entreguei pra não sei quem, não sei onde, e muito menos quando. Durante muito tempo, gastei a borracha de meu tênis levando declarações de amor, saudades e esperanças. A cada passo dado fui apagando os versos que ganhavam abrigo em corações pulsantes. Hoje, ando pelas ruas de minha cidade descalço. Meus pés, no começo, ainda sensíveis, choraram sangue, prenunciando o fim de uma longa relação. Os dias foram passando, e as feridas deixadas pelos ásperos cimentos, cicatrizando. Viraram cascas que caíram, trazendo uma epiderme grossa e insensível. Hoje, ando pelas ruas de minha cidade, que não sinto e que não sente, levando comigo apenas o amarelo desbotado de meu uniforme acompanhado por pilhas de docs de contas para pagar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário