domingo, 25 de julho de 2010

Janela sem cortinas

Sem demora a janela se abriu. Suave. Trouxe pensamentos alados. Ela não tem cortinas. Não as vejo. Fronteira do universo como a alma. Limite da intimidade. Não sei quantas vezes já passei por aqui. Reconheço a estrada. Estou ancorado, olhando o vazio, espreitando o nada. Sempre encontro linhas soltas de redes outrora partidas. Mosaico de infinitas construções. O engraçado é que nunca procurei enxergar. Mas eu vejo. Leve a música passeia com suas notas bailarinas fazendo coreografias audíveis no palco cósmico. Tem alguma coisa ali. Me aproximo devagar. Não quero fazer barulho. Silêncio... Achei um sonho perdido em mim, soterrado pela velocidade. Vejo o mundo com uma nitidez que só os sonhos possuem. Claro e brilhante ele sinaliza a direção que leva ao interior. Rápido ele diz. A janela começou a fechar...

O carteiro que perdeu sua alma

Em algum lugar deixei minha poesia. Acho que foi numa carta que entreguei pra não sei quem, não sei onde, e muito menos quando. Durante muito tempo, gastei a borracha de meu tênis levando declarações de amor, saudades e esperanças. A cada passo dado fui apagando os versos que ganhavam abrigo em corações pulsantes. Hoje, ando pelas ruas de minha cidade descalço. Meus pés, no começo, ainda sensíveis, choraram sangue, prenunciando o fim de uma longa relação. Os dias foram passando, e as feridas deixadas pelos ásperos cimentos, cicatrizando. Viraram cascas que caíram, trazendo uma epiderme grossa e insensível. Hoje, ando pelas ruas de minha cidade, que não sinto e que não sente, levando comigo apenas o amarelo desbotado de meu uniforme acompanhado por pilhas de docs de contas para pagar.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Por um instante

Por um instante, pensei ter pensado.
Por um instante, pensei ter sentido.
Por um instante, não pensei.
Por um instante, ...
Sonhei.