Vivo dentro do meu pensamento. Lá não tem paredes. Lá não tem cortinas. Lá eu ganho asas. Não é preciso falar. Não é preciso andar. Basta pensar. Dia desses, saí por aí, passageiro de mim mesmo. Rumo a lugar nenhum. Em busca do buscar. Solto como poeira, pouso em qualquer lugar. Quem anda sem destino não se perde, apenas acha. Uma fotografia antiga, um texto amassado, um abraço apertado. Uma conversa fiada, a boca calada, um olhar para o nada. Passeio com o tempo. O mundo é muito grande pra uma vida, ou mesmo duas. Sei que vou pra não voltar. Já comprei até a passagem. Partirei sem dizer adeus, mas não posso dizer que não olharei pra trás. Enquanto a hora não vem, penso em todas as viagens que fiz. Lembro da casa da praia, cheia de gente que nunca vi. Lembro do gosto do peixe do seu Lorival em Maricá. Lembro até daquela informação que pedi e não souberam dar. Cansei de tanto nadar até a ilha. Como eu queria sentir só mais uma vez antes de ir embora a brisa do mar! Mas o tempo está passando, e eu tenho que ir. Parece que a cada segundo que passa, lembro de mais coisas que vivi. As imagens e os sentidos começam a ficar sobrepostos. Mesmo assim, sou capaz de degustar tudo, numa sinergia que nunca antes senti. O médico entrou na sala. Estão todos aqui. Se eu pudesse pedir para que não chorassem... Estou em paz, eu diria, cada vez mais pleno de mim mesmo! Sinto até as minhas pernas! As partidas nunca são em silêncio. A família sai para observar tudo atrás do vidro. Última chamada para o embarque. O maquinista se dirige aos aparelhos. Sinto pela última vez.
Bah, muito bom mesmo!! Me lembrou bastante aquele livro/filme "O escafandro e a borboleta", viste?
ResponderExcluirAdorei "em busca do buscar". Parece existencialista, hehe.
Sempre escutei falar do filme mas nunca foi parar nas minhas mãos. Fui dar uma olhada na história e, realmente, pelo que li, lembra muito. Agora eu tenho que ver. hehehe Este texto tomou rumos não previstos, ele não era inicialmente para ser como ficou. Deixei ele seguir o seu curso como "poeira levada no vento da madrugada". Grande Quintana!!!
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