domingo, 14 de novembro de 2010
Banco de Areia
Entre um buraco e outro a gente sempre encontra um plano. Seja um plano alto ou uma planície. Se no meio do caminho tem uma pedra, pode ter certeza que logo depois tem um buraco. Aí, damos uns passos pro lado e lá está ele, surgido do nada, um banco de areia. No mar é assim. Entramos, ficamos na beirada, as ondas quebrando as minhas pedras... Quando olhamos para a areia: onde estão as nossas coisas? 300 metros pra lá! Coisas do repuxo. Na volta, as vezes, tomamos sustos. Buracos aparecem onde não existiam, e os bancos não estão sob as mesas. Parece a dança das cadeiras. É o mar brincando de esconder. Uma vez escondeu minha lente de contato. Escondeu tão bem que nunca mais fiz contato com ela. Ainda assim estou no lucro. Já ganhei muitas conchas deixadas na areia como um tapete para minhas caminhadas. Quando me canso de caminhar, vou me sentar nos bancos de areia. Quando tenho sorte, assisto a um espetáculo de nado sincronizado, um cardume de peixes. A precisão dos movimentos contrasta com a imprecisão das ondas. Mesmo que o ditado diga que "sentado paga o mesmo", eu gosto também de andar sobre as águas. Sobre os bancos de areia. Aqui pode subir nos bancos. Deve-se. Mas cuidado com os buracos. Quando menos se espera, estamos dentro deles. Cobertos por água. Fazendo companhia para o cardume. Um mergulho depois, estamos novamente andando nos bancos. A noite cai no buraco deixado pelo Sol. O mar é sempre mais quente a noite. O tombo da noite abre a concha do universo e expõe a pérola mais brilhante por algumas horas. Daqui a pouco o Sol brilha e tudo começa novamente.
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